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A força dos movimentos sociais na internet

Atualizado: 1 de mai. de 2021

Com tantas mudanças tecnológicas no Brasil e no mundo, a forma com que reivindicamos nossos direitos também vêm mudando. O ciberativismo possibilita uma maior conexão e engajamento das pessoas de diferentes lugares do mundo em prol de uma mesma causa.


Por Camila Magalhães


Desde as primeiras manifestações dos operários das fábricas capitalistas por melhores condições de trabalho, consolidadas ao longo do século XIX, diversos movimentos aconteceram ao redor do mundo com a finalidade de reivindicar os direitos de um determinado grupo social ou mostrar a insatisfação das pessoas com alguma situação vigente na sociedade. A Primavera Árabe na Tunísia, a Revolução Russa e o movimento Diretas Já no Brasil ilustram algumas situações onde as pessoas foram às ruas para exigirem seus direitos.


Com o advento da internet, sobretudo das redes sociais, passamos a criar novas formas de relacionamentos e comunidades online, além do fato de estarmos constantemente conectados e bombardeados com notícias do mundo inteiro. A partir dessas mudanças trazidas pela internet sobre as comunidades e na divulgação de notícias, vimos a forma com que mostramos nossa indignação ou reivindicamos nossos direitos, inevitavelmente, mudar.


Imagem de um dos protestos ocorridos durante as manifestações de 2013 no Brasil.  (Foto: Adriana Franciosi/Agência RBS)
Manifestação de 2013 no Brasil (Foto: Adriana Franciosi)

A manifestação dos 20 centavos, como também ficou conhecida, inicialmente reclamava do aumento no preço da passagem dos transportes públicos em São Paulo, mas com o decorrer dos protestos, as pessoas acabaram trazendo outros assuntos para o centro do debate. “Junho de 2013 expressou uma resistência às formas de mercantilização do trabalho e das terras urbanas manifestada por um desejo de mais democracia e investimentos públicos”, afirma Ruy Braga, sociólogo da USP, para a Revista Galileu, em 2018.


As manifestações de junho de 2013, além de trazer à tona essas questões apresentadas, deixaram um legado para os protestos: a articulação e engajamento das manifestações através das redes sociais. O ciberativismo ganhou força no Brasil a partir desse acontecimento no qual cada vez mais pessoas passaram a se engajar politicamente e debater sobre os direitos sociais com grupos formados online, difundir informações, organizar protestos e criar petições online.


Um dos sites que ganhou grande visibilidade, especialmente durante o período de isolamento, foi o change.org que permite aos seus usuários a criação de petições online. Com a opção de compartilhamento disponibilizada pela plataforma, pessoas do mundo todo podem mandar petições próprias ou de terceiros através das redes sociais para seus amigos e seguidores, engajando e conseguindo mais assinaturas para a causa defendida.


Mídias e Organizações Independentes


Além dos grupos formados através das redes sociais para organizar protestos e realizar petições, os veículos independentes online também são uma forma de chamar a atenção das pessoas para alguma causa, assim como a mídia comunitária. Esses sites, blogs ou páginas em redes sociais visam falar da causa a qual defendem com a finalidade de educar as pessoas sobre o assunto em questão.


Um exemplo disso é o blog Eu, Tu e Elas que tem como principal objetivo falar de pautas feministas. Por ser colaborativo, todas as mulheres podem enviar seus textos que serão avaliados pela editora Helô D’Ângelo, jornalista e ilustradora. Assim, as mulheres ganham voz para abordar pautas pertinentes na discussão sobre igualdade de direitos entre os gêneros.


Outro veículo independente notável é a agência de jornalismo Alma Preta. Criada em 2015 por comunicadores da UNESP (Universidade Estadual Paulista), traz as temáticas raciais do Brasil como assunto principal de seus conteúdos. “Nosso dever não é apenas informar, mas também produzir conteúdos de utilidade pública que alcancem os anseios da comunidade afro-brasileira”, escreve a equipe na página de apresentação do site.

Vidas Negras Importam


O ciberativismo, unido a um mundo mais globalizado, consegue difundir facilmente as notícias e pautas abordadas pelas manifestações de forma com que pessoas de diferentes países consigam se engajar em causas abrangentes. Um exemplo recente foi a onda de protestos do Black Lives Matter (Vidas Negras Importam) que ganhou força após George Floyd, afro-americano de 46 anos, ser assassinado por Derek Chauvin, policial branco.


Protesto nos Estados Unidos em maio de 2020 após a morte de George Floyd. (Foto: Leslie Cross/Unsplash)

A morte de George Floyd em Minneapolis, no dia 25 de maio de 2020, fortaleceu o movimento Black Lives Matter dando origem a uma série de protestos, inicialmente nos Estados Unidos e depois ao redor do mundo, mesmo em um contexto de isolamento social devido a pandemia de Covid-19.


O Black Lives Matter foi idealizado em 2013, após a morte do jovem negro Trayvon Martins e, desde então, diversos protestos já foram realizados ao redor do mundo para reivindicar os direitos da população negra. Em 2020, os manifestantes precisaram encarar um contexto mundial totalmente diferente daqueles dos anos anteriores, em meio a pandemia do coronavírus e os alarmantes números de casos da doença nos Estados Unidos, país onde George Floyd foi assassinado. A organização dos manifestantes para ir às ruas e realizar protestos precisou encarar mais esse desafio, além da provável repressão da polícia e do governo.


A internet e as redes sociais fizeram com que pessoas do mundo todo tomassem conhecimento da notícia da morte de George Floyd, engajando-se na luta pelos direitos da população negra. Um dos países a aderir o movimento após a morte de Floyd foi o Brasil.


No dia 18 de maio de 2020, poucos dias antes da morte de Floyd nos Estados Unidos, o adolescente João Pedro Mattos foi assassinado durante uma operação conjunta das polícias Federal e Civil no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, Rio de Janeiro. O fato acabou engajando mais os brasileiros a utilizarem a hashtag #BlackLivesMatter ou #VidasNegrasImportam para se manifestarem contra a violência policial.


Além dos protestos ocorridos nas ruas de Paris, Berlim, Londres, Brisbane, Sydney, Tóquio e Seul para reivindicar os direitos da população negra e o fim da violência policial, diversas petições online foram divulgadas através das redes sociais.


A união dos manifestantes teve como resultado a prisão de Derek Chauvin, policial que assassinou George Floyd, entretanto, os casos de violência policial continuam acontecendo ao redor do mundo, sobretudo nos Estados Unidos e no Brasil. Com as manifestações na internet, deixamos de ter apenas os protestos nas ruas como uma forma de fazer com que a voz da população seja ouvida. Assim, mais pessoas podem se manifestar até que seus direitos sejam, finalmente, alcançados.









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