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Comunicação comunitária no Ceará: o que é e como é feita

Atualizado: 7 de abr. de 2021

Uma breve explicação sobre essa prática fundamental para a garantia dos direitos da população e sua trajetória no estado do Ceará



Recentemente, as rádios entraram em pauta com uma medida do Ministério da Comunicação (MCom) que possibilitou a mudança de AM para FM de muitas emissoras do Ceará. A alteração permite uma melhor qualidade na transmissão e proporciona um corte de custos. Medidas dessa natureza são importantes para um segmento comunicativo com tanta relevância na sociedade atual.


A comunicação comunitária vai além de apenas veicular informações nas comunidades locais. Ela incentiva a população a ser protagonista em projetos que visam melhorar as condições de vida de parcelas da sociedade que não estão no foco principal da grande mídia. Esse tipo de comunicação pode ter como veículo rádios, audiovisual, impresso e internet. No Brasil, a prática da comunicação comunitária é um bem comum, principalmente por meio da criação de rádios comunitárias e também com o surgimento, mais recente, de páginas em redes sociais. Não é diferente no estado do Ceará.


As rádios comunitárias surgiram em meados da década de 1970, mas somente nas duas décadas seguintes elas começaram a crescer em território nacional. A ideia era dar voz a grupos socialmente excluídos, como grupos ligados ao movimento LGBTQIA+, movimentos feministas e grupos contra o racismo. Esses movimentos sociais reforçam a identidade cultural. Interesses comuns estreitam os laços entre os membros de todas essas comunidades, fortalecendo a luta coletiva.


Em 1987, as experiências com alto-falantes cresceram em Fortaleza, com a implementação de um projeto de rádios comunitárias pela Prefeitura. O sistema de alto-falantes do Jardim Iracema já funcionava desde 1982 e, em 1988, seis experiências pioneiras com alto-falantes entraram em funcionamento. As regiões de Parangaba (Serrinha), Antônio Bezerra (Conjunto São Francisco), Barra do Ceará (Buraco do Céu), Mucuripe (Jardim Nova Esperança), Mondubim (Acarape) e Messejana (Lagoa Redonda) eram parte do projeto. Com isso, de acordo com a pesquisadora Denise Cogo, no início da década de 1990, eram contabilizadas um total de vinte rádios comunitárias em funcionamento na periferia de Fortaleza.


Outra experiência cearense, com reconhecimento internacional, é a da Rádio Comunitária Casa Grande FM, que fica no município de Nova Olinda, na região sul do Estado. Tanto Ivone de Lourdes Oliveira quanto Paulo Acioli, pesquisadores da área midiática, consideram que Casa Grande FM é uma experiência de educomunicação. A rádio integra um amplo projeto de comunicação educativa, no qual as crianças começam a exercer sua cidadania a partir do reforço à identidade cultural regional. As vivências coletivas ampliam seus horizontes, abrangendo a produção na televisão, no teatro, em grupos musicais e outras atividades culturais. São todas realizadas por crianças e adolescentes, que são também responsáveis pela gestão do processo.


A legalização das emissoras comunitárias, através da lei nº 9.612, foi aprovada em fevereiro de 1998. Essa medida contava com a restrição da potência do transmissor, definição das regras de participação da sociedade civil e o veto da formação das redes e da utilização de publicidade. Todo esse contexto inviabilizou a existência da maior parte das experiências essencialmente comunitárias, favorecendo, na prática, a sobrevivência das emissoras ligadas a políticos e comerciantes, que estavam recebendo as autorizações para funcionamento legalizado. Também há como citar a repressão durante o governo Lula, que fechou praticamente todas as rádios comunitárias que não estavam dentro da legalidade. Atualmente, existem rádios dos mais diversos formatos, desde comerciais/musicais, comerciais/evangélicas, comunitárias/autogestionárias, de bairro, de universidade, de grupos culturais, anarquistas, de movimentos musicais, de minorias e muitas outras.


Movimentos sociais


A atuação em rádios comunitárias pelos militantes de movimentos sociais fornece uma maior segurança e um conhecimento mais detalhado a respeito da causa que defendem. A produção de material para ser veiculado ao público acarreta, além disso, laços de solidariedade mais próximos entre os participantes do grupo, fortalecendo a coesão interna e deixando mais nítidos os objetivos que o grupo persegue. Assim, o papel das rádios comunitárias vai além da comercialização da causa levantada pelo movimento social junto à sociedade; ele fortalece o movimento social e ajuda a moldá-lo. A percepção dos próprios militantes em relação aos objetivos que defendem é ampliada. É como ouvir o próprio eco e refletir sobre ele.


Além de tudo isso, fazer rádio comunitárias é uma forma alternativa de exercer a cidadania e estabelecer laços sociais mais amplos com o conjunto da sociedade. O que começa como um movimento social através do uso de meios de comunicação alternativos pode crescer e proporcionar um movimento social de massa. Esses movimentos, muitas vezes, podem transformar-se em movimentos políticos, o que lhes pode conferir uma outra configuração social. Tal processo é diferenciado da instrumentalização que alguns partidos políticos fazem da rádio comunitária, pois nesse caso há a intenção de promover ideais de forma que eles tragam um apoio popular.


Desse modo, percebe-se que a comunicação comunitária possui grande importância na sociedade contemporânea. É uma maneira de dar voz a pessoas que nem sempre figuram nas principais notícias a respeito de um local. Assim, seu alcance deve ser ampliado por meio de ações conjuntas, com um espaço cedido pela mídia para pessoas que possam realizar essa comunicação.


No Ceará, temos como exemplo as rádios FM Costa Oeste, FM Cultura, FM Fortaleza, FM Polo, entre outras. Cada uma delas abrange uma área específica de Fortaleza e podem ser sintonizadas na estação FM 87.9 MHZ.


Mídias digitais


Analisando o fenômeno midiático na sociedade por outra perspectiva, a chegada e popularização da internet no Brasil proporcionou o surgimento de muitos movimentos e projetos divulgados de maneira virtual. Com a crescente popularidade das redes sociais, é comum que os usuários formem preferências de acordo com suas localidades. A atualidade é uma característica vital nesse processo, assim como a identificação com um movimento e os interesses que são defendidos.


Páginas feitas pela comunidade e para a comunidade começaram a ganhar destaque recentemente. Nelas, são postados acontecimentos do cotidiano de uma forma descontraída, gerando engajamento para as páginas e para os assuntos abordados. O conteúdo é criado a partir da interação com o público, que aborda tópicos relacionados à cidade, com fotos ou vídeos ilustrando as situações.

A página “Fortaleza Ordinária”, que conta com mais de 1 milhão de seguidores, possui, na sua “bio”, a seguinte frase: "Aqui todo cearense cria o conteúdo”. É um exemplo claro de mídia comunitária nos dias atuais.


Perfis como “Sapiranga Ordinária” e “Parangaba Ordinária” seguem o mesmo padrão do “Fortaleza Ordinária”, porém com seu foco voltado para os bairros em questão.


Por influência do “Fortaleza Ordinária”, moradores de outras cidades do Ceará também criaram páginas que falam do cotidiano da população de forma humorada e com muita interação com as comunidades locais. Uma dessas páginas é a “Caucaia Ordinária”, criada pelo comediante e apresentador de televisão Paulo Soares. O perfil da página no Instagram conta com mais de 100 mil seguidores e ganhou muito engajamento na cobertura das últimas eleições municipais para prefeito e vereador.


A página “Meu País Ceará”, também do Instagram, seguiu a onda de perfis de “memes” que surgiram depois da criação do “Fortaleza Ordinária”, mas inovou ao fazer uso de outras plataformas para aumentar as interações. O perfil, criado em 2018, aborda assuntos do cotidiano do estado, conta com mais de 350 mil seguidores atualmente e procurou engajar seu público por meio de outras plataformas. A página possui playlists no Spotify, no Deezer e no YouTube, contando também com “packs” de figurinhas para o WhatsApp.


Além de servirem como fontes de informações para a população, essas mídias sociais também podem ser vistas como fontes de renda para muitos que trabalham nesse ramo interativo. Publicidades e parcerias podem ser feitas, gerando uma troca de divulgação de algum comércio local e um fluxo monetário para a pessoa que dedica tempo e esforço nesse trabalho para a comunidade. É uma diferença em comparação com as rádios comunitárias, que possuem limitações para o espaço da publicidade e divulgações.


Na página do Projeto Midiando tem um fio onde também há informações sobre as rádios comunitárias!







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