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Agências de checagem de informações: quais os critérios utilizados para etiquetagem?

Para apoiar o combate à desinformação, agências oferecem checagem de afirmações retiradas de entrevistas concedidas a veículos de comunicação. Entretanto, para além de conhecer esses canais, é importante entender suas etiquetas


Por Andrynne de Sousa, Débora Dias, Julia Moura e Thais Simião


Fonte: De autoria própria.


Sendo uma premissa da atividade jornalística, a checagem de informações — ou fact checking — compreende analisar as declarações ditas por políticos, donos de grandes empresas, criadores de conteúdo, pessoas com poder de influenciar socialmente e pautar debates públicos, e para além disso, definir se essas declarações são verdadeiras ou falsas. Essas checagens são responsáveis por autenticar a veracidade das informações e entender se existem dados inflados e diminuídos.


A prática sempre teve viés jornalístico por possibilitar a divulgação de notícias mais confiáveis. Mas, alguns jornalistas deixaram o costume de lado, replicando falas, dados e números não condizentes com a verdade. Em entrevista concedida ao Jornal UFG em 2014, a jornalista e vice- presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Maria José Braga, afirma: "Quando se fala em crise do jornalismo, só se fala nisso em função do mau jornalismo praticado em inúmeros veículos do Brasil e do mundo, que fazem a confusão de jornalismo com entretenimento, com opinião rasa.” A fala de Maria exemplifica a crise do jornalismo enfrentada em 2014, um ano antes da criação das agências de checagem, em que o jornalismo não se detinha mais aos fatos nem na análise deles. A competitividade dos grandes jornais afeta a checagem integral das declarações, sendo esse um fator que ajuda a explicar o surgimento de projetos e agências de checagem.

Por isso, foi criado o nicho jornalístico voltado ao fact-checking, tendo como motivação também as redes sociais, onde muitas pessoas compartilham informações que não precisam passar pela redação dos jornais para serem verificadas.

De acordo com o Lupa, o primeiro site independente de fact-checking, o FactCheck.org, foi fundado em 2003, pelo jornalista Brooks Jackson com a ajuda da Universidade da Pensilvânia e do Annenberg Public Policy Center. A ideia surgiu a partir da criação da Ad Police, em 1991, a primeira agência de checagem de propagandas eleitorais desenvolvida no período de eleição nos Estados Unidos. Logo após, foram criadas agências ao redor do mundo, como a BD Fact Check em Bangladesh e a Chequeado da Argentina.

O sucesso de fora trouxe o fact-checking para o Brasil. O site Aos Fatos foi a primeira plataforma dedicada inteiramente à checagem de fatos. Ele foi criado em 2015 e até hoje se compromete em tornar sua audiência mais crítica com o que consome na internet e que sejam capazes de tomar melhores decisões. Já a agência Lupa, também fundada em 2015, evoluiu suas atividades para sensibilizar e ensinar pessoas a utilizarem a técnica de checagem dos fatos, além de disponibilizar essas checagens de forma explicativa. Ambas são iniciativas jornalísticas e se comprometem com a transparência, com o apartidarismo, com a verdade ao publicar sobre a captação de recursos da agência, disponível nos sites. No bate-papo sobre desinformação eleitoral no canal Lupa, Laura Zommer, diretora executiva do Chequeado, deixa claro que a colaboração para combater a desinformação é essencial para a democracia e precisa ser sempre a mais diversa possível.

Em 2016, foi criado o “ manual de ética para fact-checking”. Ele foi desenvolvido a partir da Rede Internacional de Fact-checkers, criada pela Poynter, organização que busca a melhoria do jornalismo mundial. O manual pode ser seguido por jornalistas e profissionais que operam informações de interesse público.

Por que as agências são importantes?

O jornalismo pauta-se na veracidade, tendo sempre que se adaptar às necessidades sociais e buscar respondê-las. A checagem de fatos mostra-se essencial no atual contexto, haja vista a crescente onda de desinformação que atinge a sociedade. As agências de checagem atuam de forma pertinente no combate a esse cenário, cumprindo a função social jornalística de levar fatos coerentes e esclarecidos à sociedade.

As agências de checagem de fatos verificam informações publicadas nos mais diversos meios, contribuindo dessa forma para que a desinformação não ganhe mais espaço na sociedade. Atualmente inúmeras informações são repassadas e a tendência é consumir sem analisar o conteúdo trazido por elas, porém essas informações muitas vezes são instrumentos políticos e ideológicos.

Muitas informações buscam enganar os leitores e induzi-los a pensar de maneira determinada, carregando sempre um interesse por trás. Os serviços de checagem prestados por essas agências contribuem para o conhecimento da sociedade, ao verificarem informações dadas como fatos em diversos discursos. Para fazer isso, usualmente utilizam etiquetas, que são formas de distinguir níveis de confiabilidade nas informações, etc.

Etiquetas

A partir de agora analisaremos as etiquetas utilizadas tanto pela Agência Lupa, quanto pela Aos Fatos. O processo de checagem dessas agências é similar, eles selecionam declarações, fotos, vídeos, entre outras informações que sejam passíveis de checagem. Outro fator que elas dão preferência é o peso da personalidade que proferiu a informação e quanto “barulho” essa declaração pode fazer.

Após a seleção do conteúdo a ser checado, os jornalistas envolvidos se valem de documentos e relatório oficiais, matérias de jornais, declarações de estudiosos competentes na área. Eles analisam se os dados conferem, se os discursos não se contradizem, entre outros aspectos, para checar a veracidade das informações e aplicarem as etiquetas adequadas.


  • “Falso”:

Tanto a agência Lupa quanto a Aos Fatos usam a etiqueta nomeada “Falsa”, para quando a informação está completamente equivocada, ou seja, quando os dados ou afirmações que estão sendo passados na notícia são falsos. Um exemplo que ilustra o uso desta etiqueta seria o depoimento dado pelo ex-presidente Lula em discurso dado na sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campos, em março de 2021.

“Vocês nunca ouviram da minha boca falar em privatização.”

A afirmação foi catalogada como falsa pois, no governo Lula, houve concessões e leilões de patrimônio público. Entre 2003 e 2011 a União vendeu hidrelétricas, bancos e aeroportos, segundo o histórico do PND (Programa Nacional de Desestatizações).

  • “Verdadeiro”:

A etiqueta “Verdadeiro” é usada pelas duas agências quando a informação é considerada comprovadamente verídica.

Um exemplo que ilustra essas etiquetas é uma matéria checada pela própria Lupa no dia 21 de outubro de 2020:

“Circula nas redes sociais um vídeo em que uma mulher desce de um tobogã no mar e se depara com um tubarão. Muitos internautas acharam que se tratava de uma montagem. O material foi analisado no Caiu na rede: é fake?.”

“O vídeo é verdadeiro. A mulher que aparece na imagem é a americana Iso Machado e, de acordo com informações do The New York Post, o encontro ocorreu na comemoração de seu aniversário, nas Bahamas. No vídeo, Iso está em um iate e desce em tobogã inflável para mergulhar no mar. Ao cair na água, a câmera capta um tubarão que se aproxima dela, e é possível ouvir a voz do filho avisando “Mãe, não entre em pânico”. Iso manteve a calma. O animal, de aproximadamente 3 metros, não atacou.”

  • “Não é bem assim” e “verdadeiro, mas”; “exagerado”:

Para encerrar as três etiquetas usadas pela agência Aos Fatos, temos aqui a “Não é bem assim”, que é quando a informação não está totalmente errada, nem totalmente correta. Essa etiqueta não é usada pela Lupa, porém a agência tem outras duas etiquetas equivalentes a essa, “Verdadeiro, mas”, usada para quando a informação está correta, entretanto é necessária uma explicação mais esclarecedora para o leitor e “exagerado”, quando a informação está parcialmente correta, mas houve um exagero de mais de 10% e menos de 100% nos dados.

Um exemplo que pode ser classificada como “Não é bem assim” do Aos Fatos e “Verdadeiro, mas” da Lupa é esta checagem do Aos Fatos do dia 13 de junho de 2022:

“A descoberta pela PF (Polícia Federal) de seis contas de e-mail usadas por Adélio Bispo foi divulgada em 2018, e não recentemente, como dão a entender publicações nas redes sociais (veja aqui). As postagens compartilham fora de contexto o título de um texto publicado pelo site Conexão Política em 29 de setembro daquele ano. Os inquéritos já concluídos pela PF indicam que Adélio Bispo agiu sozinho. A investigação foi reaberta em novembro do ano passado, mas ainda não foram divulgadas atualizações.”

Os dados foram considerados não totalmente falsos, mas circularam, segundo a agência fora de contexto

Um exemplo de etiqueta exagerada pode ser essa checagem da própria Lupa no dia 22 de abril de 2021: “ “Temos orgulho de conservar 84% de nosso bioma amazônico” Jair Bolsonaro, presidente da República, em discurso na Cúpula de Líderes sobre o Clima em 22 de abril de 2021.”

Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostram que o desmatamento acumulado hoje corresponde a cerca de 20% da floresta, permanecendo 80% de pé, e não 84%. Ainda que o percentual citado por Bolsonaro estivesse correto, isso não significa que toda a floresta remanescente está “conservada”. Pelo sistema do Inpe que estima desmatamento, não é possível discernir áreas degradadas, mas com árvores ainda de pé, de áreas, de fato, preservadas. Não se sabe exatamente qual a porcentagem de áreas degradadas, mas um estudo de 2014 indicou que, até 2013, essa área seria de 1,2 milhão de km². Isso significa que 40% da Amazônia pode estar sob alguma pressão humana.”

  • “Ainda é cedo”:

"Ainda é cedo" é uma etiqueta da agência Lupa utilizada para intitular aquelas afirmações que futuramente podem vir a se tornar verdadeiras, mas no momento ainda não tem comprovações que as fazem ser uma realidade. Uma checagem da agência Lupa que ilustra a etiqueta acima, é o seguinte trecho de um anúncio feito por alguns médicos, publicados em jornais impressos no dia 23 de fevereiro de 2021:

“ Os relatos de cidades e estados que adotaram as medidas para intervenção precoce na Covid-19 têm mostrado bons resultados, com a diminuição da carga sobre os sistemas de saúde”

Segundo a agência Lupa: “ Ainda não há estudos científicos que avaliem como o tratamento precoce da Covid-19 influenciou no número de casos da doença em estados e cidades brasileiras”.

  • “Subestimado”:

"Subestimado" é uma etiqueta feita pela agência Lupa para intitular afirmações que são amenizadas por quem as dita. Geralmente os dados são minimizados entre 10% à 100% em relação a sua gravidade real para se encaixar nesse quesito.

  • Insustentável”:

A agência Lupa conceitua a informação como insustentável quando não há dados públicos que a comprovem. O seguinte exemplo trata-se de uma checagem feita pela agência acerca das promessas feitas pela Governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra, nas eleições de 2018 em sua campanha eleitoral:

“(…) cumprimento do Regulamento Técnico para Funcionamento dos Serviços de Atenção Obstétrica e Neonatal (RDC 36/ANS) pelas instituições e estabelecimentos assistenciais”

“Promessa feita por Fátima Bezerra em seu plano de governo na campanha eleitoral de 2018 (página 44)”

não da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), como a promessa menciona —, estabelece padrões técnicos para o funcionamento de serviços de atenção obstétrica e neonatal. Há, por exemplo, uma lista de materiais e equipamentos que devem estar à disposição das equipes que trabalham nesses locais. A norma também fixa processos operacionais, entre outros itens relativos à prestação desse serviço.

Ainda de acordo com a resolução, os estados devem enviar semestralmente para a Anvisa um “consolidado dos indicadores” de desempenho dos serviços oferecidos. No entanto, a agência informou que não dispõe dessas informações, já que o Rio Grande do Norte não enviou seus dados consolidados como prevê a resolução. A Lupa havia solicitado informações sobre o período entre janeiro de 2019 e janeiro de 2022. Questionado, o governo do estado não se manifestou.”


  • “De olho”:

A etiqueta “De olho”, da Agência Lupa, é destinada para informações que ainda estão ou estarão em observação durante um período. Geralmente, voltada para promessas, planejamentos futuros e etapas de um projeto que ainda serão alcançadas. É uma etiqueta que não aparece com tanta frequência, posto que precisa de uma análise temporal antes de ser utilizada. Um exemplo que ilustra a etiquetagem é a frase da governadora do Rio Grande do Norte, em 2018, que dizia: “Desenvolver programas de geração de emprego e renda para as mulheres rurais e urbanas, priorizando as mulheres chefes de famílias, mães solteiras e com necessidades especiais.”

Nesse sentido, a governadora sancionou a lei que desenvolvia programas voltados para mulheres desempregadas. Entretanto, até março deste ano, a lei não foi regulamentada pelo governo, por isso, não funciona na prática. Estar “De olho” significa observar se o projeto vai passar pelas fases e funcionar integralmente.





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