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Como as produções sul-coreanas estão contribuindo para a descentralização do cinema ocidental




A globalização não é tão atual como muitos pensam, mas, com o advento da internet, esse fenômeno foi impulsionado em uma grande escala, revolucionando a forma que vivemos e, com isso, a forma pela qual os conteúdos midiáticos são consumidos. Se você for uma pessoa que cresceu nos anos 1990 e 2000, provavelmente foi exposto a muitos conteúdos não-brasileiros, em especial desenhos animados e músicas, pois essas mudanças, impulsionadas pela internet, proporcionam um acesso mais rápido a conteúdos diversificados. Hoje em dia, é comum essa mescla de culturas nas mídias, a ponto de não questionarmos esse consumo, visto que as gerações mais novas estão cada vez mais expostas a conteúdos estrangeiros.


Entretanto, apesar dessa aparente diversidade midiática, é notório que o processo de globalização no ocidente conta com uma hegemonia de conteúdos em língua inglesa, que dificulta a entrada de produtos orientais nas grandes premiações, no catálogo de serviços de ‘streaming’ e nas salas de cinema. Esse fenômeno é maléfico, uma vez que, da falta de representatividade, quando uma produção quebra essas barreiras é considerada “exótica” e conta com reações de surpresa. Por isso, a ascensão de produções , como a série “Round 6” e o filme ’’Parasita’’, são essenciais nesse processo de descentralização. Adiante, abordaremos como essas produções contribuíram para a descentralização do cinema ocidental.


O impacto de Parasita e a ascensão dos doramas


"Parasita" é um filme de 2019, dirigido por Bong Joon-ho, que gira em torno da tentativa de família pobre em se infiltrar na casa de uma família rica e, assim, melhorar de vida. , apresenta várias críticas e reflexões sobre desigualdade social, em especial na sociedade coreana, mas que podem espelhar situações em todo mundo. A obra logo ganhou visibilidade por apresentar uma quebra de expectativas e uma grande construção cinematográfica em seu enredo, conquistando os holofotes do ocidente em diversas premiações, como o Festival de Cannes e Globo de Ouro, além de ser o grande destaque do Oscar 2020, se tornando o primeiro filme estrangeiro a vencer o prêmio de Melhor Filme do Ano.



Diretor Bong Joon Ho fez história no Oscar 2020 / Fonte: Portal Making Of

A partir disso, o longa serviu de ponte para a aproximação do público do Ocidente com o Oriente, pavimentando o caminho para que produções asiáticas sejam vistas com outros olhos no mundo do cinema, onde os diversos gêneros e enredos se mostram tão bem desenvolvidos e envolventes — ou até mais — quanto produtos estadunidenses e europeus.


O mesmo aconteceu com os conhecidos doramas que tiveram a fama crescendo cada vez ao longo dos anos entre o público ocidental. Os doramas — termo que se popularizou por se assimilar com a pronúncia da palavra drama em japonês e coreano —, são chamados erroneamente de novelas asiáticas, pois se aproximam mais do formato de séries ou minisséries com normalmente apenas uma temporada, e apresentam um grande leque de diversidade quando se trata de gêneros e tipos de enredo, apesar de a maioria das produções mais conhecidas ser de romance ou comédia romântica.


Nessa perspectiva, o dorama sul-coreano “Round 6” estreou em setembro de 2021 e em poucos meses se tornou a série mais vista e mais lucrativa da Netflix, desbancando grandes produções como “La Casa de Papel” e “Bridgertons”. O dorama retrata uma sociedade, em que personagens com condições financeiras precárias são convidados a participar de um jogo, em que o ganhador recebe uma grande quantia de dinheiro, porém desafios não são comuns e trazem inúmeras reviravoltas ao longo dos episódios. Dessa forma, assim como ’’Parasita’’, “Round 6” critica a desigualdade socioeconômica coreana.


Ademais, a recriação de algumas dessas provas, feitas por telespectadores nas redes sociais, contribuiu para o aumento da sua visibilidade, a tornando um fenômeno mundial.


A brincadeira "Batatinha Frita 1,2,3 " ganhou um filtro no instagram.

O sucesso foi tão grande que espectadores da série começaram a assistir outros dramas com temáticas parecidas, como o japonês “Alice in Borderland” e o também sul-coreano “Sweet Home”. O consumo dessa categoria de conteúdo apenas cresceu com aestratégia da Netflix, a maior plataforma de streaming atualmente, de incluir vários doramas já existentes em seu catálogo e até mesmo produzir alguns deles. Além disso, a inclusão de dublagens nas séries foi um passo importante para abrir espaço para públicos , em geral mais velhos, que dificilmente escolheriam assistir algo em outra língua com legendas.

Os espectadores de Round 6 se interessaram também por outras produções Fonte: Razões para Acreditar / Adorocinema

Descentralização do modelo americanizado e preconceitos quebrados


Atualmente, a ascensão de produções audiovisuais estrangeiras, em especial as , vem contribuindo com a descentralização da hegemonia cultural no ocidente, que tem a característica de ser majoritariamente voltada para filmes norte-americanos e europeus em inglês. O sucesso de ’’Parasita’’ e ’’Round 6’’ aumentaram as buscas pelas produções do oriente.


Em sua obra " A Cultura da Mídia", o autor Douglas Kellner alega que "as narrativas e as veiculadas pela mídia fornecem os símbolos, os mitos e os recursos que ajudam a constituir uma cultura comum para a maioria dos indivíduos(...)". Ao longo da história, as narrativas pertenceram a produtos culturais que pertencem à língua inglesa. forma, a cultura desses países é muito presente não só em nosso país, como também em grande parte do globo.


Em seu discurso de agradecimento ao receber o prêmio de Melhor Filme Estrangeiro no Globo de Ouro de 2020, o diretor Bong Joon-ho afirma: “Quando vocês superarem a barreira de filmes com legendas, descobrirão muitos filmes incríveis”, fazendo uma crítica e apelo à Academia Internacional de Cinema e ao público ocidental em geral.


Segundo a Academia, "se o cinema conseguir abrir espaço para produções mais inclusivas e diversas, as consequências vão ser muito positivas: obras mais críticas e que promovem um pensamento social mais agudo." O recente e grandioso sucesso dessas produções sul-coreanas podem dar início a um maior espaço não somente a filmes e séries asiáticas, como também a produções audiovisuais de várias partes do mundo, contribuindo assim para uma maior diversidade cultural no ramo das artes visuais. É graças a esses produtos audiovisuais que as barreiras das línguas e legendas estão sendo ultrapassadas pouco a pouco.


Dicas de produções sul-coreanas para assistir

  • Invasão zumbi (filme):A Coreia do Sul decreta estado de emergência após um vírus desconhecido tomar conta do país. Algumas pessoas tentam fugir de zumbis e ficam presas em um trem-bala que está a caminho de Busan, a única cidade que não foi afetada pelo vírus.

  • Extracurricular (série):conta a história de Ji-soo é um estudante exemplar mas introvertido que não chama muita atenção na escola, mas fora dela o jovem é o responsável por comandar um esquema criminoso para poder pagar suas despesas e ter uma vida digna. Tudo ia bem na vida de Ji-soo até Gyu-ri, uma colega de classe, aparecer e começar a se envolver nos negócios do garoto.

  • Nova ordem espacial (filme):Nova Ordem Espacial se passa no ano de 2092, quando o espaço está dominado por lixos flutuantes perigosos, como satélites descartados e espaçonaves desertas. A tripulação da nave The Victory viaja pelo espaço procurando o lixo com que eles podem ganhar dinheiro, enquanto também compete com navios coletores de detritos de outros países e usa a rapidez de suas embarcações para derrotar seus rivais.

  • Vincenzo (série): A série conta a história de Vincenzo Cassano (Song Joong-ki), um advogado que nasceu na Coreia do Sul e criado na Itália, onde conseguiu chegar ao cargo de consigiliere da máfia Italiana. Quando ainda morava na Itália, escondeu uma fortuna em ouro no subsolo de um prédio comercial na Coreia, o dono do ouro morre e só Vincenzo e seu sócio sabem a localização da fortuna.



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