Por Bianca Araújo, Laila Nobre,
Mariana Fernandes e Rogeslane Nunes
Nos dias atuais, estamos constantemente sujeitos a conhecer novas ferramentas sociais que ano após ano são desenvolvidas por empresas de tecnologia. Algumas poucas opções tornaram-se tão grandiosas que vieram a ser destaque no mundo inteiro, como Alphabet-Google, Amazon, Apple, Facebook e Microsoft, as chamadas Big Five.
Em 2014, surgiu no mercado um aplicativo cuja finalidade inicial era produzir dublagens de músicas e áudios de forma divertida, o Musical.ly, produzido por uma empresa chinesa. Entretanto, não demonstrou muitos sinais de crescimento até sua compra pela ByteDance que, para tornar o aplicativo mais acessível internacionalmente, mudou o nome para TikTok. Em 2019, a nova ferramenta teve seu pico de alcance com 750 milhões de downloads. Ele é caracterizado como uma plataforma, que, segundo Anne Helmond, combina infraestrutura tecnológica e econômica e tem caráter dominante na sociedade. O aspecto econômico gira em torno da coleta de dados como modelo de negócio.
Seguindo o modelo de plataformização, a proposta do aplicativo é que seus usuários produzam pequenos vídeos com duração entre 15 segundos e 3 minutos com uma grande quantidade de elementos gráficos que o próprio app permite adicionar durante as edições, abusando da criatividade. De acordo com a agência de consultoria Sensor Tower, cerca de um bilhão de vídeos são vistos a cada 24h, o que ocasionou um crescimento da receita de 521% no ano de 2019. Em agosto de 2021, quando essa matéria foi produzida, o TikTok conta com 1,23 bilhões de usuários ativos. A proposta do app é muito chamativa, principalmente para os jovens entre 16 e 24 anos que compõem 40% do público principal, que foram atraídos pelo modo simples e fácil de usar a plataforma, os diversos conteúdos personalizados e ainda para driblar o ócio causado pelo isolamento social por causa do Coronavírus.
As tendências são colocadas em prática por mecanismos atrativos como os algoritmos, que sugerem conteúdos personalizados, e a monetização.
Algoritmo
Algoritmos são definidos por Carlos D’Andréa como “uma sequência de instruções de programação escritas para cumprir tarefas pré-determinadas”. Ele trabalha analisando e classificando padrões de dados que são usados para fazer previsões e, assim, mostra as produções que serão mais atraentes para cada visualizador. Por exemplo, no Instagram, quando curtimos um determinado tipo de postagem como postagens sobre viagens ou arquitetura, seu feed estará cheio dessas postagens que, aparentemente, você gosta. Uma das consequências é que você fica “preso” em um determinado tipo de postagens.
No TikTok, são colhidas informações sobre as preferências de seus usuários ainda na criação do perfil, quando ele solicita que marquem alguns temas de conteúdos que queiram ver na plataforma. A rede social possui dois feeds, em um aparecem os conteúdos de pessoas que o usuário segue e, no outro, chamado de For You, são exibidos vídeos que o algoritmo recomenda.
Os conteúdos feitos pelo usuário e as métricas produzidas ao interagir na plataforma, como curtidas, compartilhamentos, comentários, as contas seguidas e favoritar postagens, por exemplo, são fundamentais para a avaliação algorítmica de cada pessoa que está nessa rede social. Também podem ser observados o som, o efeito, as hashtags, as legendas, a preferência de idioma, entre outras escolhas inseridas nos miniclipes. Há, dessa forma, um feed específico para cada pessoa, sendo o sistema aprimorado na medida em que se passa mais tempo interagindo na mídia.
Talvez o ponto mais atrativo do TikTok seja a possibilidade de que qualquer pessoa possa viralizar e passar de anônimo a famoso. Diversos jovens deixaram de ser pessoas comuns e se tornaram influencers. Os perfis mais seguidos da rede social são justamente de usuários que não eram famosos antes de ingressar na plataforma.
O algoritmo do TikTok faz muito sucesso e tornou-se uma ferramenta valiosa. A empresa ByteDance, de acordo com o Financial Times, abriu uma startup, a BytePlus, para vendê-lo, mas os valores ainda não foram revelados. Os clientes podem acessar esse algoritmo de recomendação, tornando-o personalizado para cada aplicativo ou plataforma. Junto com a inteligência artificial base do algoritmo do TikTok e as ferramentas de análise de dados, a ByteDance também oferta adicionalmente os recursos de efeitos de vídeo e tradução automática de texto e fala.
Monetização
No Brasil, a plataforma não paga criadores de conteúdo por visualizações em seus vídeos, embora esse sistema já exista nos Estados Unidos, onde os usuários cumprem alguns critérios impostos pelo app. Existem outras formas de monetizar, como a utilização do Marketplace de Criadores do TikTok (TCM), que é a plataforma oficial para colaborações entre marca e criador. Também há o TikTok LIVE para usuários que atendem aos critérios da ‘Política de Itens Virtuais’ e que podem fazer transmissões ao vivo e monetizar por meio de presentes.
Há também o incentivo, pela plataforma, em atrair usuários através de recompensas em dinheiro para quem convida ‘novos amigos’. Para isso, você envia o link para alguém que nunca baixou a aplicação e quando essa pessoa criar sua conta com o link fornecido deve assistir a vídeos por 10 dias para que a recompensa seja creditada. Com o crédito, também é possível fazer recargas no celular. Além disso, a nova parceria com diversas empresas permite trocar os pontos acumulados no Tiktok por descontos na C&A, iFood e Enjoei.
Essa rede social tem tido bastante impacto em diversas áreas do entretenimento. A seguir, apresentaremos algumas tendências que surgiram por influência do Tiktok.
1. Música
As dancinhas representam a plataforma, não é mesmo? E junto com as danças, algumas músicas viraram hits por causa do amplo compartilhamento. Assim, a indústria musical é impactada pelo aplicativo, e até o Spotify criou uma playlist para as músicas que viralizaram. Segundo o pesquisador Flávio Marcílio, “a influência da música pop dentro da plataforma se dá claramente pela popularidade e simbologia criada pela indústria cultural.”
Os cantores gringos dominam a rede. A estadunidense Olívia Rodrigo usou o TikTok para apresentar ao mundo seus sucessos Driver’s License e Deja Vu. Além de ter mais de 1 bilhão de visualizações no YouTube, ela domina o TikTok com mais de 7 bilhões de menções.
No Brasil, os artistas também ampliam o alcance de suas músicas com a plataforma. A canção brasileira Modo Turbo, feita em colaboração com Anitta, Pabllo Vittar e Luísa Sonza, foi lançada em dezembro de 2020 e teve quase 151,5 milhões de visualizações apenas pela hashtag #modoturbochallenge. A ideia de criar um conteúdo para ser replicado tem se tornado comum na plataforma como forma de participação do usuário, garantindo a ele uma melhor experiência de participação e a partir disso trazem grande visibilidade para os artistas envolvidos.
O cantor João Gomes ocupa as primeiras posições das músicas mais tocadas do Brasil no Spotify e grande parte do sucesso é devido ao TikTok.
2. Moda
A moda foi outro aspecto social modificado e reinventado pelo consumo na plataforma, que possui um “lado” (expressão usada pelos usuários para se referir aos diferentes nichos e seus conteúdos) para quem curte esse tema, o ‘TikTok Fashion’.
Segundo o site We Fashion Trend, os jeans largos e as calças cargo — tão populares nos anos 2000 — voltaram com tudo em 2021.
Assim como os tops recortados, que mostram sutilmente um pouco de pele, e as saias plissadas estão no gosto dos que criam tendências nessa mídia. Também nessa lista, está o suéter sem mangas de tricô.
A empresas de moda já utilizam muito bem o TikTok para estar em contato com os usuários. A marca Calvin Klein faz uma produção de conteúdo diária nessa rede, utilizando o slogan “Remover o filtro” para impulsionar a moda do imperfeito, que consiste na busca pela quebra dos padrões estabelecidos, valorizando a naturalidade. Algumas marcas - como a Prada - têm feito parcerias com influenciadores para que eles criem conteúdos para elas. Assim, mesmo sem conteúdos em seus perfis oficiais, elas alcançam um grande número de usuários. Outras, como a Alice + Olivia, mesmo contando com os influencers, mantém postagens em seus perfis oficiais.
Mesmo estando inseridas no TikTok, a maioria das empresas ainda não se especializou no tipo de postagem da plataforma. O destaque vai para marcas como a Amaro e Havaianas que já se posicionam ativamente.
3. Influencers
Junto do TikTok, também cresceu o número de influenciadores digitais que já estavam no âmbito da internet a partir do YouTube e Instagram. Novas personalidades passaram a conquistar milhões de seguidores com a criação de vídeos variados. Entre os usuários mais seguidos, podemos encontrar jovens como Charli D’Amelio, com seus 122,2 milhões de seguidores, conquistados com as famosas dancinhas características do app. Charli, que se tornou uma celebridade dentro da plataforma, também divide espaço com personalidades já conhecidas que se descobriram ótimos criadores de conteúdo como o ator Will Smith, com seus 60.5 milhões de fãs.
No Brasil, também podemos facilmente encontrar pessoas que se tornaram famosas devido aos seus conteúdos produzidos no TikTok, como Rebeca Barreto, que também se tornou uma celebridade por suas dancinhas, junto com outros criadores de conteúdo humorístico, como a Gkay, o Gutierrez Castro e a Lorrane Silva.
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