Para otimizar a experiência dos assinantes, gigantes do streaming utilizam algoritmos para personalizar perfis, mas a ferramenta pode ser uma faca de dois gumes.
Por Isabella Rifane, Lóren Souza, Ana Faely Nobre e Maria Clara Medeiros
Com o avanço da tecnologia, a sociedade ganhou novas formas de entretenimento. Assim como o rádio perdeu espaço para a televisão, as plataformas de streaming surgem conquistando o público.
Na liderança, encontramos a Netflix, com aproximadamente 230 milhões de assinantes ao redor do globo. Apesar dos números impressionantes, a popularidade não é uma característica exclusiva do serviço, suas principais concorrentes, Amazon Prime Video e Disney+, também apresentam grandes quantidades de assinantes, com 200 e 118 milhões, respectivamente.
O motivo para números tão altos é simples: algoritmos. As ferramentas garantem sugestões de filmes e séries ideais para cada usuário, proporcionando uma experiência prática e personalizada.
Apesar da perspectiva animadora, é importante manter-se alerta. A praticidade proporcionada por esses serviços pode interferir na liberdade de escolha do usuário, pondo em xeque quem realmente está no controle: as empresas e seus algoritmos, ou o assinante.
Para entender a questão, é necessário, primeiro, compreender o funcionamento dessas ferramentas digitais.
Como funcionam os algoritmos?
Partindo do princípio, você sabe o que os algoritmos são? Se sua resposta for não, não se preocupe, a resposta é simples: algoritmos são sequências de instruções ou operações, utilizadas para alcançar um objetivo final.
Para exemplificar, podemos utilizar a Netflix. No caso da empresa, o complexo algoritmo é programado para analisar os gêneros de filmes e séries disponíveis, o que o usuário assistiu e como classificou essas produções, e, finalmente, a classificação dada por outros assinantes com perfil semelhante ao do usuário em questão.
Após cruzar os dados obtidos, o algoritmo está pronto para cumprir sua programação, conseguindo atingir seu objetivo final com facilidade: a ferramenta determina um catálogo personalizado, com títulos que interessam a cada usuário especificamente.
O que parece um prato cheio para os amantes da praticidade, é, na realidade, uma faca de dois gumes.
Entendendo a problemática
Para ter acesso às plataformas, o usuário paga uma taxa, normalmente, mensal. Teoricamente, o pagamento garante que todos os títulos sejam assistidos, independente de seu gênero. Entretanto, na prática, os usuários ficam restritos a recomendações específicas. Até mesmo ao procurar em um gênero diferente do que é acostumado, o assinante ainda não visualiza produções muito distintas do habitual.
Supondo que, em seu histórico, um assinante reúna a série “Riverdale” e o filme “Os Goonies”. Ao vasculhar as produções do gênero ficção científica, a primeira sugestão feita para esse usuário provavelmente será “Stranger Things”, que mescla mistérios em uma cidade pequena, assim como Riverdale, com as aventuras de um grupo de amigos dos anos 80, presentes em Goonies. Logo, o usuário vai permanecer consumindo o que já estava acostumado.
Assinante da Netflix há quase cinco anos, Francisco de Freitas já percebeu essa interferência do algoritmo, e reclama: "Assisto a muitos filmes de ação, e muitas produções asiáticas. Às vezes, quero variar, mas não encontro nada diferente. Agora, se eu entrar nos perfis dos meus filhos, encontro praticamente um novo catálogo.”
Para exemplificar, o usuário cita: “Dificilmente comédias aparecem para mim, mas é só entrar no perfil do meu filho, que adora sitcoms, que eu encontro títulos que nem sabia que a Netflix possui."
E a influência do algoritmo vai além: a forma como um conteúdo é apresentado também é determinada pelo cruzamento de dados. Caso um filme possua aventura e romance, o usuário que preferir romances verá uma capa romântica, provavelmente com um casal ou uma cena de romance entre os dois, já aqueles que preferirem o outro gênero, verão uma cena de aventura na capa.
Resumindo, o problema não está na praticidade fornecida pelo método, e sim, na falsa sensação de escolha que é apresentada ao usuário. Se uma mensalidade é paga em troca de acesso a todas as produções, o mais justo é que o usuário consiga ter fácil acesso a todas elas, até com as que não está habituado. Possa “dar play” em uma produção vendida como romance, e realmente encontre romance, sem cenas de lutas ou suspense não anunciadas previamente.
Além de prejudicar os assinantes, o método também compromete as próprias plataformas. Como? É só passar para o próximo tópico para entender.
Sem surpresas em novas produções
Os dados obtidos através dos algoritmos também são utilizados para descobrir o que tem feito sucesso entre os espectadores, determinando que padrões devem ser mantidos nas próximas obras para que elas também ganhem popularidade.
A prova dessa prática pode ser vista no recente lançamento da Netflix, “Rebelde”. Inspirada em uma novela voltada para o público adolescente da américa latina, a série herda o ambiente escolar e musical da versão original, mas ganha aspectos mais adultos, que remetem a outro fenômeno da Netflix, “Elite”.
Alguns usuários já notaram o método, e enchem as redes sociais da empresa, reclamando sobre a falta de originalidade nas produções, como é possível ver nos comentários abaixo:
Fonte: Reprodução/Twitter
O que escancara um problema que a Netflix, assim como Prime Video, Globoplay e tantas outras, logo terão que lidar: como impedir que a fórmula de sucesso torne-se um desastre?
Bom, até que as plataformas ofereçam, ao assinante, a oportunidade de decidir se querem o auxílio do algoritmo ou não, ao navegar por seus serviços, cabe ao próprio espectador refletir: você está assistindo algo que realmente quer, ou só foi induzido por parecer com tudo o que você consumiu antes? Ao pagar um serviço, você prefere praticidade ou liberdade? Quem realmente está no controle?
Para os amantes da liberdade
Se você for daqueles que não abre mão da liberdade, você está com sorte: o Midiando separou algumas dicas de serviços com curadoria humana, que podem te ajudar de forma mais orgânica.
MUBI: O MUBI é uma plataforma global de streaming de filmes com curadoria humana. Outro atrativo é a produção e distribuição de filmes assinados por cineastas emergentes e consagrados, que estão disponíveis exclusivamente em sua plataforma.
Chippu: Apesar de não ser uma plataforma de streaming e ainda contar com certa ajuda de algoritmos, o Chippu é uma opção alternativa para os usuários de plataformas de streaming. O aplicativo, que mistura curadoria humana com algoritmos, reúne dicas e sugestões de filmes e séries de serviços de streaming.
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